sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Monte Nyudo e as Azaléias


Com o fim da primavera a temporada de chuvas e tempestades dificultava as escaladas em montanha, os raios que vinham caindo nessas regiões colocavam medo em qualquer pessoa. Eu não diferente disso sabia que o planejamento para uma ascensão deveria ser nos mínimos detalhes. Comecei então a escolher um lugar e pela primeira vez fui procurar um mapa com rota definida para facilitar minha vida, mas claro que é sempre difícil para um leigo entender um mapa e o mais difícil ainda é encontrar um cenário totalmente diferente do imaginado pelo mapa.

Nessa minha busca descobri diversos grupos e clubes de escalada e decidi que futuramente entraria em contato com algum para buscar além de companhia  aventuras mais altas, coisa que sozinho seria difícil de conseguir, por uma série de fatores, financeiro, logístico  falta de experiência, dificuldade com o idioma e uma série de outros fatores.

A montanha escolhida foi o Monte Nyudo, ou Nyudogadake em japonês. Além de possuir apenas 906 metros essa montanha se situa a apenas 15 km de casa, o que facilitaria verificar muito bem a previsão do tempo antes de sair de casa. No dia programado estava tudo quase perfeito, o céu azul e a bela visão que tenho na frente de casa me deixaram animado, quando verifiquei na internet a previsão apontava chuva na parte da tarde e alerta para muitos raios.

Logo cedo então peguei minha mochila e parti para a montanha, se tudo desse certo 1 hora da tarde eu já estaria fora da montanha, assim não correria riscos. Antes de iniciar a trilha passei pelo Grande Santuário de Tsubaki e pedi a benção dos Deuses, afinal eles já haviam me ajudado muito em um momento de tempestade. Na entrada da trilha já se observa uma escadaria de pedras, é só começar a subir por ela que a mesma parece infinita, deve ter mais de 45ºC de inclinação e você ganha mais de 100 metros de altitude em uma tacada só, ao final dela com a língua de fora percebi que meu dia não seria muito fácil.

Depois de mais um trecho de subida, agora não tão íngreme começou um trecho acidentado e um com certo grau de dificuldade, nesse trecho encontrei um senhor que dizia estar com um pouco de medo da montanha por ser a primeira vez nela, gentilmente comecei a acompanha-lo mas como o ritmo dele era muito menor do que o meu ele insistiu que que eu seguisse em frente. A trilha se tornou muito mais longa do que eu imaginava, no meio dela existe até um abrigo de refúgio, não possuía nada, era simplesmente uma cabana desabitada no meio da montanha, porém em momentos extremos deve ser de muita serventia.

Com mais de 1 hora e meia de caminhada avistei o primeiro sinal de azaleia  que é o chamariz dessa elevação, isso indicava que o cume estava próximo, e depois de chegar em um bosque repleto de arbustos de azaleia avistei o topo pela primeira vez. Foi uma pena não ter chegado no auge da floração, o que é sempre difícil pois no período de uma semana muda tudo, porém ainda encontrei belas flores e com uma tonalidade que nunca havia presenciado antes.

Passadas 2 horas e 10 minutos e finalmente atingi o cume, isso depois 
de atravessar o longo topo quase inteiro. Nessa hora aprendi uma lição, nunca subestime uma montanha, principalmente pelo seu tamanho, essa era a menor que já havia escalado, porém tem 700 metros de proeminência, que pra serem conquistados de uma vez só exigem um esforço considerável.

Haviam apenas 2 pessoas no topo, era um casal de idosos que partilhavam um almoço e a paisagem, me sentei próximo deles e também fiz o mesmo, com uma visão privilegiada da cidade de Suzuka. Como não existem montes mais altos ao sul, pode-se observar perfeitamente a formação de nuvens, e o impressionante é que apesar de o tempo ter ficado levemente nublado não havia nenhum sinal de tempestade. Como programado fiz meia hora no topo e parti pra baixo.

Quando estava atravessando o topo da montanha de volta e apreciando algumas azaleias encontrei o Senhor que havia cruzado na subida, ele me cumprimentou e seguiu para o cume, depois eu ficaria me perguntando que apuros ele passaria com a iminente tempestade.

A rota escolhida para a descida seguia por um vale, o início era um verdadeiro buracão do tipo salve-se quem puder, era descer aquilo correndo com o risco de levar um grande tombo, ou acabar com os joelhos. A vantagem é que em menos de 5 minutos você já perde uns 200 metros de elevação, a desvantagem é que quando este pique termina as pernas ficam bambas e retomar a descida depois de a musculatura estar tão estressada é um verdadeiro sacrifício.


Seguindo vale abaixo entramos na floresta e uma mina d´água dá origem a diversas cachoeiras e uma paisagem exuberante, pena que as trovoadas começaram a me incomodar e isso tornou o caminho de volta ao invés de relaxante, angustiante. Segui a passos firmes pra baixo e em um momento tive a impressão de estar perdido, a derrubada de árvores em um trecho simplesmente deixou a trilha confusa a ponto de eu não saber pra onde seguir, felizmente depois de consultar o mapa e observar o terreno consegui tomar a direção correta.

O som dos trovões começou a aumentar e clarões já eram percebidos quando finalmente começou a chover, rapidamente coloquei minha capa e continuei seguindo, a trilha se tornou plana e isso significava que faltava pouco. Eu já avistava meu carro quando começou uma verdadeira tempestade, adentrei no veículo e me preparava para sair dali o mais rápido possível quando o meu celular tocou, era minha “Querida Esposa” dizendo para eu descer imediatamente pois já haviam emitido o alerta de perigo, então apenas dei a boa notícia, “Fique tranquila, já estou no carro”.


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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Monte Gozaisho e a Princesa da Primavera


A primavera havia chegado e eu programava mais uma escalada, como minha filha havia comentado que um dia gostaria de experimentar uma subida em montanha resolvi convida-la e ela topou. A montanha escolhida mais uma vez foi o Gozaisho, primeiro pelas facilidades na montanha e segundo por ter um teleférico, o que facilitaria a descida caso ela ficasse muito cansada.

Nos programamos e partimos em um agradável sábado de sol. 
A trilha já era conhecida por mim o que evitaria qualquer contratempo, começamos a subir no ritmo que ela determinou, estava rápido demais e apesar de eu alerta-la ela disse que tudo bem e continuou tocando o ritmo.

No inicio da subida encontramos famílias inteiras e muitos idosos, fomos deixando todos para trás de forma que fiquei até surpreso. Como não costumo descansar nesse tipo de subida deixei que ela comandasse também as paradas, a primeira demorou a vir, cerca de uma hora depois do início e aí ela pregou. Foi um erro muito grande deixar ela no controle pois depois dessa pausa seguidas paradas se sucederam e o avanço ao cume ficou comprometido.

Em um trecho do percurso parecíamos não evoluir, além do ritmo muito mais lento a paisagem não mudava, era pedra atrás de pedra e um sol de rachar a moringa. Quando voltamos para dentro da mata o ânimo dela parece ter sido retomado, aceleramos o passo e chegamos em uma canaleta rochosa que leva ao topo, por essa canaleta a água minava de forma exagerada devido ao degelo da montanha. Um pouco de esforço ali e logo estávamos no topo do Gozaisho.

Havia muita gente lá em cima, logo deixei que ela descansasse e fizemos uma parada para a refeição, afinal de contas ainda tínhamos que atravessar o o topo para chegar ao cume principal. Depois de alimentados e descansados paramos para ver o resto de neve que ainda derretia, naquele local onde semanas atrás crianças brincavam com os seus trenós coloridos. Ela parecia radiante só de poder pisar e mexer em um pouco de neve, assim como todas as crianças presentes, afinal somos de uma região onde a neve não faz parte do cotidiano no inverno.

Para ela tanto fazia alcançar o cume, mas fiz questão que ela chegasse lá, eu tinha que mostrar para as pessoas que mesmo uma criança pode subir uma montanha. O valor que ela dará a isso virá com o tempo quando ela recordar o seu primeiro cume. Depois de uma eternidade de 3 horas e 40 minutos chegamos no cume, na descida ela muito satisfeita quis rolar na grama que no inverno fora uma pista de esqui.


A descida foi leve, caminhamos até a entrada do teleférico, aguardamos na fila e descemos de forma confortável. Para mim claro teria sido melhor uma descida por terra, mas o objetivo foi cumprido, minha Princesa sofreu um pouco mas chegou lá em cima me dando a satisfação de ter guiado alguém ao topo pela primeira vez. Como recompensa pra ela, compramos lembranças do local e tomamos um merecido e escaldante banho em um onsen.


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