terça-feira, 13 de agosto de 2013

Travessia Monte Oike ~ Monte Fujiwara

Com a chegada das monções fica difícil de programar uma subida em montanha, além do risco de fortes chuvas ainda convivemos com um grande inimigo que são os raios provenientes das tempestades. Lord e eu havíamos programado uma travessia pelos montes Kama e Gozaisho, porém com o tempo ruim não pudemos levar adiante esse plano, como no dia seguinte Lord não estaria livre para a escalada decidi fazer uma solo, coisa que a muito tempo eu não fazia.

Entre seguir o programa do dia anterior e troca-lo, optei por escolher uma montanha onde nunca havia pisado antes, depois de pesquisar decidi subir o Monte Oike, o ponto mais alto da cordilheira de Suzuka, porém isso ainda parecia pouco e sozinho eu poderia seguir um ritmo próprio, então tomei a decisão de atravessar para o Monte Fujiwara, por uma rota pouco frequentada, pelo fato de iniciar em uma região de difícil acesso e uma longa trilha de 20 km.


Parti bem cedo rumo a montanha, porém o acesso era um pouco mais difícil do que eu imaginava, depois de rodar um bom tempo por caminhos sinuosos, emburacados e com rochas que rolaram montanha abaixo cheguei em um local que parecia um inicio de trilha, consultei o GPS e descobri estar no ponto errado, porém o acesso ao destino certo estava fechado e se quisesse manter os planos teria que seguir a pé, o que aumentaria a minha caminhada em pouco mais de 1 hora.

Sem muita opção decidi seguir assim mesmo, com o intuito de acelerar o passo nos trechos menos íngremes para recuperar o tempo perdido. Estacionei o carro e encontrei uma senhora que sabendo dos meus planos me perguntou se eu conhecia essa região muito bem, diante da minha negativa ela se surpreendeu com a minha coragem, o que me deixou com o pé atras e quase me fez acompanha-la até um pico secundário, porém ela frisou que eu ainda era novo e que aquele caminho não deveria um problema.

Depois daquele impasse lá estava eu na trilha, era um trecho para passagem de carro, porém fechado com corrente para impedir o avanço dos mesmos. Algumas placas alertavam para a presença de ursos e dejetos pelos caminho realmente davam a presença deles como certa, como nunca avistei nenhum e com sinos balançando na mochila não me preocupei muito com isso, porém ali sozinho em uma região pouco freqüentada um ataque tanto de ursos quanto de javalis poderia ter proporções letais.

Avancei em um ritmo alucinante e quando a subida apertou eu já estava morto de cansaço, sempre sofro um pouco nesses trechos iniciais e o calor misturado a alta umidade no meio da floresta me fizeram refletir se eu conseguiria concluir aquela trilha. Continuei subindo com afinco e logo o organismo se acostumou ao ritmo melhorando a sensação de mau estar. Alcançando uma crista, e consultando o mapa verifique que seguindo por ela era possível ascender ao Monte Oike, então retracei o trajeto e rumei crista acima.

A crista arborizada trazia um ar fresco e me protegeria do sol por um longo período, em um caminho sem dificuldades alcancei um pico secundário, dali se podia avistar um tartarugão que era o Monte Oike, visivelmente o caminho até o topo parecia não ser fácil, mas havia uma trilha marcada que levava até um trecho rochoso e era exatamente por ali que eu deveria seguir, nesse momento decidi que se não conseguisse alcançar o cume dessa montanha até as 10 horas abortaria atravessar para outra e retornaria pelo mesmo caminho.

Cheguei ao trecho rochoso e a visão era exuberante, quando algumas pessoas me perguntam se eu não tenho medo desses trechos eu foco minha visão nessas imagens e o medo se transforma em euforia, claro o medo tem que existir, mas apenas para que você faça as coisas com prudência e não que deixe de fazê-las por conta dele, apenas fazendo essas coisas que você conhece melhor os seus limites e desta forma acaba aprendendo o que pode e não pode fazer.

Passado o trecho rochoso já se alcança o topo da montanha, porém o caminho até o cume é bem longo passando por uma extensa planície com muitas rochas e vegetação rasteira. Caminhando por este trecho pude visualizar o pico do Monte Fujiwara que parecia bem distante, ao longo do horizonte montanhas ainda nevadas como os Montes Ontake e Haku davam o ar da graça, devido ao dia limpo e sem nuvens.

Conforme programado as 9:55 consegui atingir os 1247 metros do Monte Oike, fiz o meu primeiro descanso do dia e observei a paisagem local que com muitas rochas e arvores secas lembraram a caatinga brasileira. Depois de 15 minutos no local resolvi retornar minha jornada pois ainda faltava muito, a retomada da trilha que seguia para o Monte Fujiwara era um pouco confusa, me perdi e tive que descer um pedaço por uma canaleta com muita lama, mas no final consegui retomar a trilha certa.

A paisagem que ligava as duas montanhas era um pouco diferente do que eu havia imaginado, ao invés da vegetação rasteira uma mata fechada tomava conta de tudo, fiquei confuso em diversos trechos até encontrar a crista que liga as duas montanhas, nesse momento  retomei a subida e passei a enfrentar outro problema, caibras, os meus dedos começaram a arquear para baixo e isso indicava que depois de ter forçado tanto o ritmo precisava de um descanso.

Me sentei ali no meio da trilha mesmo, depois de alguns minutos um senhor passou por mim, então resolvi retomar o caminho seguindo o ritmo dele, pra minha surpresa ele era muito mais rápido do que eu imaginava e com a perna ainda meio travada tive dificuldade em o acompanhar até que ele parou pra descansar, parei e conversei com ele que me disse que já iniciaria a descida pois já havia feito cume no Monte Oike, ele se impressionou com meu longo trajeto, me desejou sorte e segui em frente.

Depois de mais um tempo de subida cheguei até um ponto que eu já conhecia, o local com torres de eletricidade por onde iniciamos a descida no ultimo inverno, dali até o cume do Fujiwara eu seguiria pelo mesmo caminho que havia feito, porém dessa vez sozinho e com uma paisagem completamente diferente tive a impressão de nem conhecer aquele local, o trajeto até um pico secundário que estava na programação seguiu sem problemas e o difícil mesmo foi sair dali e rumar para o abrigo onde havia programado o almoço.

Rocha Tengu - 1165 metros, ao fundo o Monte Fujiwara
O mato ficou alto e a trilha foi sumindo, rodei pra lá, pra cá e nada, consultei o GPS e resolvi fazer um caminho alternativo, segui por uma crista e cai em um vale extremamente íngreme, decidi não amolecer e encarar logo aquela subida, porém meu estado físico já não era o mesmo, o joelho direito estava com uma dor aguda, comecei a usar o bastão de caminhada mas logo o joelho esquerdo também abriu o bico, me esforcei ao máximo mas uma hora sucumbi ao desgaste físico e tive que sentar.

O abrigo não estava longe e a subida já havia terminado, porém faltava perna, creio que isto tenha servido muito bem para eu estudar o meu próprio limite. Depois de alguns minutos sentado percebi pela primeira vez a presença de um ser incomodo, sanguessugas, mesmo sem muita condição peguei minhas coisas e me mandei, depois de tudo que passei ainda ter que enfrentar sangramentos era demais para um dia só.

Quando saí da mata fechada soprava um forte vento, nuvens negras se formavam rapidamente e a chuva que não estava programada parecia iminente, avistei o abrigo e rapidamente disparei em sua direção, na chegada antes que eu arrastasse a pesada porta ela se abriu, um homem de meia idade já estava deixando o local que então passou a contar apenas com a minha presença.

Extremamente cansado e com o estômago meio revirado me alimentei mau, não que a comida estivesse ruim, pois levei um marmitão preparado com todo carinho pela minha esposa, mas depois de consumir tanto liquido e ficar exausto, não havia nada que eu quisesse devorar. Enquanto estive no local uma fina chuva caiu de leve e logo o tempo se abriu, então decidi partir mesmo cansado pois já estava prevendo que enfrentaria dificuldades na descida.

Depois de uma leve descida comecei a subir a rampa que leva ao cume do Monte Fujiwara, no caminho encontrei 3 mulheres que retornavam do mesmo, segui em um ritmo bem forte, porém tive que fazer pequenas paradas. Já passava das 13:30 quando finalmente cheguei ao topo, como programado eu havia chegado ao meu segundo objetivo, parei para fazer algumas fotos e logo retomei o caminho pois o pior ainda estava por vir, a descida.

Com uma certa dificuldade consegui chegar na crista oeste, um mato muito alto tomava conta de tudo e tive que desviar o caminho andando lateralmente em um trecho extremamente íngreme, depois dali era só descer rasgando até encontrar o rio, mas não foi tão fácil, aos poucos a crista foi virando uma floresta fechada e várias bifurcações deixavam a trilha bem confusa até que finalmente errei o caminho, chequei minha posição e tomei a errada decisão de continuar descendo até chegar ao rio.

As trilhas foram feitas para serem seguidas e quando tentamos inventar em uma região que desconhecemos as chances de sucesso são pequenas, apesar de logo ouvir o barulho do riacho e conseguir avista-lo, chegar até ele não foi uma tarefa das mais fáceis, porém com a ajuda de diversos troncos de pinheiro caídos pelo caminho consegui vencer aquele trecho acidentado.

Devido as fortes chuvas que antecederam a travessia, as margens do riacho não apresentavam boas condições e para piorar o meu caminho errado me faria andar mais tempo marginando ele, ficou aquele pula pra lá e pra cá e minhas pernas não aquentavam mais, o riacho havia ganhado status de rio e tive que começar a adentrar na água. Muito cansado decidi entrar na mata que marginava o rio, porém sem trilha e um caminho muito difícil desisti ao avistar um enorme cervo macho descendo em minha direção, por mais que eles costumam não atacar humanos preferi não hesitar contra um animal com chifres enormes.

Mais um tempo sofrendo naquelas margens e finalmente encontrei o abrigo da Universidade de Nagóia, o local estava abandonado e com garrafas de saque espalhadas pra todo lado, o que indica que os estudantes costumam fazer outra coisa além de pesquisa de campo. Me sentei na porta do abrigo e consultei minha posição, mesmo sem condições físicas decidi partir pois o relógio já passava das 15 horas, então atravessei o rio dei de frente com um barranco.

Observei bem aquele trecho para achar a entrada da trilha, estava extremamente confusa e quando achei algo que parecesse uma adentrei na mata. Realmente aquela era a trilha, mas bastou andar 5 minutos e o caminho novamente se tornou confuso, diversas cristas se dividiam em uma íngreme subida, todas levariam até a crista principal que era meu objetivo, então tive que optar por uma e em um dia daqueles é claro que escolhi o caminho errado.

Quando me dei por conta do erro que havia cometido eu já havia subido um longo trecho, meu raciocínio me mandou voltar, mas as pernas não deixaram, continuei subindo já em ritmo de exaustão, a cada clareada na mata eu acreditava estar chegando na crista, porém era apenas ilusão de quem esta muito cansado. Com aquele caminho eu cairia em um trecho da crista mais acima do programado, o que além de me fazer subir mais, novamente aumentaria minha jornada.

Quando cheguei àquela crista parecia nem acreditar, com uma sensação de alívio comecei a descer tranquilamente, afinal já havia passado ali e nada mais poderia dar errado, leso engano. Aos poucos comecei a perceber que o caminho estava estranho, não só estava estranho como estava errado, a crista havia bifurcado sem que eu percebesse e eu estava indo em direção a um outro rio, ao invés de seguir para uma ponte que atravessaria o mesmo.

Muito cansado olhei para cima e desisti de voltar, pensei em segui até o rio e margina-lo até a ponte, o objetivo não estava longe porém aquele caminho ganhou uma dificuldade que eu não havia enfrentado até então. Muitas rochas e lama em um trecho íngreme, parar em pé parecia impossível, varias rochas começavam a se soltar assim que eu me apoiava nelas, decidi voltar mas já era tarde, após uma pedra se soltar cai de cara, por sorte na lama se tivesse sido em uma rocha o final poderia ter sido diferente.

Sem saber o que fazer observei que havia uma canaleta a minha direita, me arrastei até o local que deveria chegar até o rio, então comecei a me arremessar naquela fenda ganhando 3, 4 metros a cada investida. Desta forma rapidamente eu alcancei o rio, claro que com muitas escoriações mas finalmente eu poderia beber água, coisa que eu não fazia a mais de uma hora pois além da minha reserva ter acabado o outro rio estava com a água muito turva para ser coletada.

Só depois de matar a sede é que me dei conta de onde eu estava, havia uma barragem e placas de perigo indicavam que o local não era amistoso, mas eu não possuía outra alternativa, subi o muro de mais de 2 metros que do outro lado devia ter uns 7 metros, consegui descer coma ajuda de rochas que estavam escoradas na margem da barragem, depois disso ainda enfrentei mais duas dessas barragens até que finalmente avistei a ponte que era meu objetivo.

Retomei a trilha com muito alívio, pois afinal dali em diante era praticamente impossível se perder, então andando por um caminho suave a expressão de cansaço da lugar a um sorriso de satisfação e me fez pensar em todo o trajeto daquele dia, as dificuldades, os erros, e o que leva uma pessoa a se arriscar passar por isso, creio que isso não tenha resposta, mas uma mescla de tudo é o que alimenta o meu desejo se estar cada vez mais em cima de uma montanha.


VÍDEO



GALERIA


















domingo, 9 de junho de 2013

Os Sete Cumes de Suzuka

Nesta postagem vou abordar a conquista dos 7 cumes de Suzuka, uma meta alcançada 13 meses após eu estabelece-la, e que me dá força e inspiração para almejar e buscar novas conquistas. Tudo começou em março de 2012, quando comecei a pegar gosto pela coisa e buscava uma montanha em que pudesse me aventurar sozinho sem correr maiores riscos, com isso após pesquisas descobri quais eram estas montanhas e as melhores rotas para se alcançar seus cumes.

A Cordilheira de Suzuka se localiza na divisa entre as províncias de Mie, Shiga e uma pequena parte no Sul da província de Gifu. Com uma área de 298 km2 , essa cadeia de montanhas não é constituída apenas de 7 montanhas, porem as "Sete" são as mais famosas e mais visitadas, tanto por esporte, quanto por turismo e religião. O seu ponto mais alto fica no topo do Monte Oike 1247m, e que curiosamente nem faz parte das 7 mais famosas montanhas.


O local também é conhecido por ser um Parque Nacional de mesmo nome, que protege tanto as florestas da região quanto as várias espécies de animais que nela habitam. Um desses animais é o Kamoshika, um tipo de caprino que apesar do nome "shika", veado em japonês, mais se assemelha a um bode ou carneiro. Esse animal também influenciou a região, "Suzu-ka" que significa sino do veado, deu o nome à cordilheira e posteriormente à cidade que se tornou famosa pela Fórmula 1.

As montanhas que compõem esse seleto grupo são, Monte Fujiwara 1140 m, Monte Ryu 1099 m, Monte Shaka 1092 m, Monte Gozaisho 1212 m, Monte Kama 1161 m, Monte Amagoi 1238 m e Monte Nyudo 906 m. Outros picos que merecem destaque são, Monte Ryozen 1094 m, Monte Oike 1247 m, Monte Watamuki 1110 m, Monte Nihonkoba 934 m, Monte Sen 961 m, além de dezenas de outros picos abaixo dos 900 metros.

Na sequencia seguem coletâneas de imagens dessas travessias com seus respectivos relatos.

Monte Gozaisho




























Essa foi a primeira desse grupo que me aventurei, com trilhas bem demarcadas e um movimento constante de pessoas, essa foi uma montanha que me ensinou muito, passei calor, frio e acabei culminando nela por 3 vezes, sendo uma vez acompanhado de minha filha com apenas 10 anos na época.

Relatos:

Monte Gozaisho - Outono

Monte Gozaisho - Congelando na Montanha

Monte Gozaisho e a Princesa da Primavera


Monte Kama



Essa foi adrenalina pura, depois de 2 cumes no Monte Gozaisho decidi experimentar outra montanha, por acaso descobri esses tais 7 cumes e escolhi o Monte Kama, a montanha do lado, sem mapa, gps ou qualquer outro tipo de orientação adentrei na montanha apenas seguindo a trilha, é claro que me perdi, mas no final tudo acabou bem e ainda acabei retornando como debutante no Suzuka Hiking Club.

Relatos:

Monte Kama e as 7 Montanhas de Suzuka

Monte Kama e as Sanguessugas


Monte Nyudo

































Essa foi uma montanha que me surpreendeu, com apenas 906 metros tudo indica que é muito fácil de escala-la, não que seja difícil mas o fato de encarar 700 metros diretos para cima deixam qualquer um com a língua nos pés. Depois de uma ascensão solo, ainda retornei com o Suzuka Hiking Club para uma subida na neve, fato que não se concretizou devido a ausência da mesma.

Relatos:

Monte Nyudo e as Azaléias

Monte Nyudo e os Deuses da Montanha


Monte Amagoi

































Um pouco mais experiente, consegui arrastar dois malucos brasileiros para essa montanha, o desempenho foi razoável e pudemos apreciar uma exuberante paisagem de outono. Posteriormente eu retornei com o Suzuka Hiking Club para uma ascensão pelo lado inverso, com um caminho muito mais longo e mais difícil.

Relatos:

Monte Amagoi e os Três Montanheiros

Monte Amagoi e o Deus Dragão


Monte Shaka





























Depois de não encontrar neve no Monte Nyudo, Lord e eu decidimos escalar essa montanha no dia seguinte e encontramos toda neve que faltou no dia anterior, uma tremenda cagada, encaramos um paredão vertical de 200 metros que mais tarde descobriríamos ter sido responsável por alguns óbitos, e a montanha ganha cada vez mais fama de assassina, com mais um desaparecimento no último mês de maio.

Relato:

Monte Shaka - O Inferno Branco


Monte Fujiwara






























Mais cume na neve, desta vez liderado por Taro do Suzuka Hiking Club, uma travessia longa e cansativa, porém muito divertida com ótimos companheiros. Recentemente eu retornei a montanha, mas o relato fica pra depois.

Relato:

Monte Fujiwara - Travessia Invernal


Monte Ryu

































A última montanha que me restava veio acompanhada de ótimos parceiros, se o desempenho e o tempo não ajudarão, por outro lado a diversão foi garantida. Apesar dos contra-tempos e o risco de ter que abortar a subida, o objetivo foi alcançado e minha meta estava completa, estive com os pés nos pontos mais elevados das 7 Montanhas de Suzuka.

Relato:

Monte Ryu - A Montanha do Dragão


Novo objetivo? É claro que já tracei, alcançar o cume das 21 montanhas com mais de 3000 metros do arquipélago japonês, ainda faltam 19 mas eu não tenho pressa, pode demorar 20, 30 anos mas podem ter certeza que vou buscar essa meta.

domingo, 19 de maio de 2013

Monte Ryu - A Montanha do Dragão

Feriadão no Japão e eu e o Lord nos preparávamos para mais ascensões, a ideia era de subir duas montanhas em dois dias, porém o tempo acabou não ajudando e ficamos apenas com 1 dia de tempo bom. Afim de concluir os 7 cumes de Suzuka, escolhi o Monte Ryu, ou Ryugatake em japonês, com 1099 metros de altitude esse era o último cume dos 7 que me faltava e com isso concluiria uma das minhas metas.

Como essa montanha parecia não ser muito exigente, convidei Juquinha que outrora já havia manifestado o desejo de subir conosco, ele aceitou de imediato, então foi só passar as coordenadas para que ele se preparasse melhor e evitasse surpresas. Com a chuva do dia anterior e uma frente vinda do Norte, alertei que ele estivesse preparado para temperaturas abaixo de 5ºC e ventos de mais de 50 km/h.

No dia marcado partimos logo cedo em direção ao Vale Uga na cidade de Inabe, onde a partir de um Camping se iniciam diversas rotas rumo ao topo da montanha. Tracei uma rota que seguia por um vale passando por cachoeiras, alcançando uma crista e seguindo por ela até o cume, continuando por ela para iniciar a descida, porém como imprevistos acontecem logo na entrada do Camping tive que mudar tudo que havia planejado.

Conhecemos o Sr. Sakura, que cuida do Camping e orienta os montanhistas sobre as rotas, mostrei a ele o meu mapa com a rota traçada e ele me disse que estava desatualizado, a rota de subida não poderia ser seguida devido a erosão no local, a de descida ele desaconselhou, por isso aceitamos a sugestão de subir por uma crista central, perguntei sobre outra rota para a descida que também possuía cascatas, ele disse que não era uma boa devido a chuva mas também poderia ser utilizada.

O ponteiro do relógio mau tinha atingido o número 8 e já estávamos com o pé na trilha, a caminhada começou leve e passamos por duas grandes pontes que facilitaram a travessia dos riachos, aliás a bela estrutura do lugar chama atenção, não é atoa que temos que pagar para entrar, porém uma pechincha de cerca de 2 dólares, bem pagos devido as facilidades que encontramos, principalmente na parte baixa da montanha.

Duas mulheres haviam partido um pouco antes de nós, e viemos a encontra-las assim que a trilha ficou confusa, duvidas para todos os lados até que encontramos a placa que direcionava para a crista. Começamos a ganhar altitude rapidamente e Juquinha começou a pedir água, descansamos um pouco e partimos mas novamente ele começou a se queixar, uma das mulheres que seguiam na frente também parecia estar com o mesmo problema e as passamos e fomos ultrapassados por diversas vezes.

O cara reclamou tanto em certo ponto que parou até para soltar um barrão, expondo o seu traseiro branco para os animais da floresta. Eu tentava incentivar mas ele já estava dizendo que eu queria era engana-lo, pois seria difícil até o fim. Fui puxando o ritmo com paciência, mas se dependesse dele ficaríamos uns 3 dias na montanha. Lord vinha seguindo atras sem reclamar das paradas, aliás acho até que ele começou a gostar do ritmo mais ameno.

Fomos saindo da mata e com isso a crista se tornou rochosa, nada de grande dificuldade, mas pra quem já estava com a língua no pé, ficou um pouco pior. Já próximo de 1000 metros, um forte vento começou a soprar, uma névoa tomou conta do pico e indícios de que uma chuva poderia chegar. A temperatura baixou e paramos pra nos agasalhar, já não havia mais Sol e a névoa dominava a paisagem, enquanto isso as duas mulheres vinham descendo, elas estavam abortando o ataque por conta da mudança no tempo.

Nessa hora combinei com meus companheiros que não era hora de corpo mole, deveríamos apertar o passo para chegar ao cume antes da chuva, pela minha experiência parecia que não choveria, mas a possibilidade existia e era bom não ignora-la. Comecei a forçar o ritmo quando alcançamos a crista que leva ao cume, nesse momento o vento era tão forte que chegava a jogar o corpo de lado, Juquinha novamente sentiu o peso nas pernas e acabou sentando em meio aquele vendaval, eu disse que o cume estava próximo, mas ele disse que eu esta dizendo isso desde que começamos.

Não demorou muito e lá estava eu no topo do Monte Ryu, que significa Dragão, desta vez tive um gostinho especial, afinal eu havia alcançado os 7 cumes da cordilheira de Suzuka, alguns instantes depois e lá estavam meus companheiros juntos a mim, Juquinha estava exausto mas não dava para descansar muito ali em cima, o vento que segundo o próprio Juquinha era de 200 km/h, mas não passava de 55 km/h, fazia a sensação térmica se tornar negativa, por isso mau tivemos tempo de relaxar e já estávamos na descida.


Na saída do topo com uma visibilidade muito ruim entrei em uma rota que o Sr. Sakura não havia recomendado, Juquinha ainda me alertou se era por ali mesmo, não era, porém na minha cabeça já estava programado que era e acabamos descendo pelo caminho errado. Era uma crista extremamente íngreme e aproveitei para correr para baixo fugindo do topo pois as nuvens começaram a  trazer gotas de água. Esperávamos por um bom lugar para almoçar, mas o lugar era tão íngreme que tivemos que andar quase uma hora para enfim descansar.

Na ausência de um local decente para parar, acabamos parando em um lugar com grandes rochas pois pelo menos era possível sentar. Ali sentados saboreando os nossos "deliciosos" cup lamen e jogando conversa fora observávamos as grandes rochas que se postavam bem acima de nós e com qualquer movimento poderiam nos esmagar, mas felizmente todas mantiveram-se quietinhas em seus lugares.

Continuamos a descida e avisei a eles que faríamos apenas mais uma parada, continuamos descendo em um ritmo acelerado e logo alcançamos um vale, o caminho por ali seria longo porém sem dificuldades. Conforme o Sr. Sakura havia alertado que alguns pontos estavam meio ruins, muita erosão de rocha mas sem comprometer a trilha que ainda possuía uns paredões com grampos, em locais onde foram construídas barragens para conter o avanço da água.

Ao final dessa rota eis que encontramos as 3 cascatas prometidas, além de reencontrar a rota por onde havíamos subido, assim retornando sem dificuldade ao nosso ponto inicial. Juquinha? Bom pelo tanto que ele reclamou na subida até me surpreendeu seu ótimo desempenho na descida, além do seu humor que também estava ótimo, quem sabe descobrimos um novo montanhista para nos acompanhar.




 VIDEO



GALERIA