Durante a grande reunião anual do Suzuka Hiking Club, ficou decido que na semana seguinte haveria uma travessia no Monte Fujiwara. Taro que seria o líder dessa travessia me perguntou se eu estava dentro, disse que ainda não sabia se participaria, ele insistiu e confesso que ainda estava com um pé atras depois do que havia passado no Monte Shyaka. Ele me tranqüilizou e disse que seria diferente, pois aquela era outra montanha e com uma rota bem diferente.
O Monte Fujiwara é a primeira das 7 montanhas de Suzuka no sentido Norte/Sul, com 1144 metros de altitude no ponto mais alto, essa montanha possui um topo bem extenso com diversos picos porém sem cristas, o que no inverno torna o topo um grande maciço reluzente, atraindo milhares de montanhistas que pretendem subir montanhas nevadas porém sem grande dificuldade.
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No dia que antecedeu a travessia uma frente vinda do Sul trouxe muita chuva, o que chegou a ameaçar a subida, porém o tempo melhorou e recebemos a confirmação com horário e local a se encontrar. A vantagem de ter chovido é que boa parte da neve situada na parte baixa da montanha haveria derretido e isso tornaria a subida menos cansativa do que encarar neve logo na entrada da trilha, a desvantagem é que o que sobrou da neve estaria dura e escorregadia.
Cheguei com antecedência no estacionamento onde parte a trilha, depois de alguns minutos percebi que poderia estar no lugar errado, como ainda não compreendo os ideogramas japoneses muito bem, muitas vezes acabo me atrapalhando, porém consultando o que estava escrito no email e no local, tive certeza de estar no lugar errado. Liguei para Taro e disse onde estava, ele me confirmou que o ponto marcado não era ali, porém que eu poderia aguardar no local pois partiríamos dali.
Enquanto aguardava, encontrei outro membro do grupo que me perguntou se o local de encontro estava certo, dei a noticia que estávamos errados porém poderíamos aguardar ali, pelo menos um japonês também havia errado como eu. Depois de alguns minutos chegaram mais sete pessoas e nos juntamos a uma mulher de fora do clube que faria a sua primeira experiência.
Todos prontos com suas mochilas nas costas, que alias dessa vez estava bem pesada, com os itens básicos e fogareiro, panela, crampons e ainda as raquetes de neve amarradas do lado de fora. Recebemos um mapa e orientações de Taro explicando a rota, pois com a neve dura alguém poderia escorregar e acabar se perdendo dos demais. Seriam 14 km em apenas 1 dia sendo boa parte com neve, eu achei a rota meio longa, uma vez que três participantes nunca haviam subido uma montanha nevada, porém havia um plano B.
Adentramos na trilha com muita lama, a rota não apresentava dificuldades, a única coisa que torna o Monte Fujiwara severo é o fato de serem quase 1000 metros de proeminência, sem nenhum descanso, é para o alto e avante. Passados alguns minutos a maioria do grupo estava pingando suor e tiveram que eliminar camadas, eu preferi passar frio no começo a cozinhar durante a subida.
Quando passamos do 6º estágio, a trilha passou a ter gelo que foi aumentando até chegarmos no 7º e ocorreram muitos escorregões. Conforme nos aproximamos do 8º estágio, a neve se tornou espessa tingindo todo o chão de branco. Fizemos uma pequena pausa para recarregar as energias e depois seguir direto para um abrigo situado no topo da montanha, onde pretendíamos fazer a nossa refeição.
Seguimos por um trecho que eles chamam de rota de inverno, pois não é usada em outra época, a neve estava dura e quebradiça, o que fazia com que muitas vezes ficássemos com os pés atolados em um buraco e aumentando o risco de lesões. Quando saímos de um bosque e entramos em uma grande rampa de neve a situação melhorou, então ganhamos velocidade e rapidamente chegamos ao abrigo.
O local estava lotado de gente e resolvemos retardar o almoço e seguir para o cume, calçamos as raquetes e iniciamos uma descida para depois subir outro trecho. Soraya tomou a frente e alguns o seguiram, inclusive eu, pegamos um trecho muito íngreme e com muito vento, quando estávamos na metade e exaustos ele apontou para o lado dizendo que aquela era a rota certa, ali Taro e mais dois membros do grupo subiam com tranqüilidade, sofremos um desgaste desnecessário, porém chegamos ao cume antes dos demais.
No cume pudemos apreciar a belíssima paisagem de inverno, faltou uma geada, mas nem tudo é perfeito e acertar o dia com tudo perfeito é coisa rara. Os grandes vizinhos Monte Oike e Monte Ryu pareciam tão próximos que dava até vontade de seguir pra lá. Alguns minutos ali, fotos individuais, fotos com o grupo e partimos de volta para o abrigo, pois já havia gente reclamando de fome.
Esse trecho foi o mais divertido pois a descida parecia uma pista de esqui, então todos passaram a escorregar de bunda, as mulheres mais leves e com mochilas menores obtiveram grandes performances, eu com a mochila muito pesada e aquele apetrecho gigante nos pés não obtive muito êxito, porém passados 20 minutos e lá estávamos nós de volta ao abrigo, que aliás parecia estar mais cheio ainda.
Diante desta situação, resolvemos não perder mais tempo e comer ali fora mesmo, a temperatura não era muito agradável, porém o sol fazia a sensação térmica melhorar consideravelmente. O brilho solar na neve era tão intenso q mau enxergávamos as chamas do fogareiro, comemos comida quentinha, com direito a ovo cozido distribuído por Gabi e ainda uns bolinhos doce, cortesia de Choke. Ficamos ali sentados jogando conversa fora até que levantamos acampamento pois a rota inicial seria seguida.
Começamos uma grande travessia até o outro lado do topo, passamos por mais dois picos até que chegamos em uma planície com uma vista privilegiada, do local pudemos avistar diversos picos nevados, alguns a centenas de quilômetros de distancia, ao Norte o Monte Ibuki e o grande Monte Haku, a leste montanhas de mais de 3000 mil metros como o Monte Ontake e os Alpes do Centro, faltou o Monte Fuji, mas eu já estava satisfeito.
Iniciamos a descida pela face norte da montanha, como haviam trechos de terra a maioria de meus companheiros seguiu somente de tênis, porém uma neve extremamente dura e escorregadia anunciava o perigo em um trecho bem íngreme, foi então que Fumifumi caiu em um buraco, ao tentar sair dele acabou escorregando e seu corpo girou de cabeça para baixo começando a deslizar sem controle, disparei na direção dela e não teria obtido sucesso caso uma árvore no meio do caminho a obstruísse sem causar danos, ajudei ela a se levantar e meio grogue ela continuou a descida.
Um pouco mais a frente novo contratempo, em um trecho com uma bifurcação de 2 vales, Gabi deixou sua garrafa térmica escorregar bem no caminho que não seguiríamos, eu sugeri que ela abandonasse, mas como ela queria muito aquilo eu e Choke descemos até lá pra tentar o resgate, quando já dávamos certo que não acharíamos eis que ele acabou encontrando a garrafa em um buraco junto a uma árvore, pura sorte e a partir disso o duro foi sair daquele vale já muito cansado.
O sol começou a baixar e voltamos a caminhar na lama, enfrentamos trechos muito acidentados e com erosão, o que acabou retardando um pouco a descida, porém ainda com luz natural alcançamos a estrada. Caminhamos um trecho até chegar ao local onde a maioria havia deixado o carro, deixamos a carga lá e fomos tomar um café com direito a lareira e pão assado no forno a lenha, que serviu para fechar com chave de ouro esta travessia.
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Nossa que aventura hein!!! Muito bonitas as fotos!!!
ResponderExcluirEssas fotos de montanhas nevadas me lembram da Finlândia.
Mas confesso que não me animo a subir no frio viu!! rs
Valeu Nanda, infelizmente fotos na neve com camera comum ficam uma porcaria, mas a paisagem compensa!!
ExcluirComece a subir no verão, qdo vc subir a primeira no inverno garanto q não vai querer parar!!
Demais essa travessia. Belas fotos!
ResponderExcluirValeu Carlos, essa foi muito divertida!!
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