sábado, 12 de janeiro de 2013

Monte Fuji - Escalada Diurna

Depois de ter passados muitos apuros no ano passado, quando comprei um tênis  uma mochila e parti sozinho pra desafiar a maior montanha do arquipélago, esse ano procurei me programar melhor, pensei em participar de uma excursão, porém subir com um clube de montanhismo parecia mais excitante. O Suzuka Hiking Club ou Suzuhai como eles costumam chamar, me aceitou nessa subida e a proposta era de uma escalada sob a luz do dia, ao contrario do que a maioria das pessoas fazem.

Sem tempo para treinamento em montanha optei por caminhadas em terreno acidentado dentro da cidade, que começou com 5 km sem adição de peso e terminou com 12 km e 9 kg nas costas. Isso me deixou confiante pois meu maior medo era não conseguir acompanhar pessoas mais experientes. A escalada foi marcada para o inicio de setembro, quando já havia terminado a alta temporada que é entre julho e agosto, depois todo o suporte que se tem na montanha como banheiros, abrigos e comida se encerram e apenas pessoas acostumadas à vida em montanha se arriscam a subir.

Sete pessoas do grupo se inscreveram para a subida, sendo 4 delas da província de Mie, incluindo eu, e mais 3 da província de Aichi. Como programado nos encontramos em Mie no final da tarde de um sábado e partimos para Aichi para pegar do resto da turma, nos acomodamos em um veículo grande pilotado por Nao e seguimos viagem apenas com uma pausa para o jantar, onde sentamos todos na mesma mesa e pudemos nos conhecer melhor, eu ainda contando com a ajuda de Gabi para traduzir o que eu não entendia.

Já passava das 23:00 quando chegamos ao 5º estágio que seria nosso acampamento base, o número de veículos e barracas superou nossas expectativas e tivemos que parar um pouco mais abaixo. Sem muito blablabla armamos a barraca e enquanto eu observava o céu mais estrelado que já presenciei todos já haviam se recolhido. Para dormir nos separamos entre Homens e Mulheres, eramos 3 e ficamos com uma barraca apertada ao qual eu ainda fiquei com o espaço do meio esticando sua lona com a cabeça e os pés.

Demorei a conseguir pegar no sono, diferente do camarada à minha esquerda que em 5 minutos ligou uma moto-serra que duraria a noite toda. Coloquei o fone no ouvido e ao som de Saxon a noite ficou mais tranquila, porém um grande número de veículos que circulavam pelo local sempre iluminavam nossa barraca com seus faróis e dormir mesmo parecia impossível. As 4 horas o despertador tocou e me levantei com uma dor de cabeça de ressaca, com uma noite daquelas eu ficava imaginando como seria subir a montanha naquelas condições, porém em 15 minutos eu estava bem, tomei o café da manhã com direito a um bolo preparado por minha esposa, me aqueci e aguardei o momento da subida.

O relógio marcava 5:15 quando inciamos a subida com o céu alaranjado apontando no leste, e logo o astro rei deu o ar da graça deixando a paisagem ainda mais bela. No sentido contrário a impressionante imagem da sombra da silhueta da montanha refletida nas nuvens. Nesse momento estávamos todos empolgados e subindo em um ritmo forte, porém em um grupo de 7 pessoas dificilmente manteríamos aquele ritmo. O líder Taro ficou pra trás dando suporte as pessoas de ritmo mais lento, Nao ficou encarregada de puxar a fila lá na frente e eu procurei acompanha-la.

Pelo Monte Fuji ser a montanha mais famosa do Japão durante a trilha você vê de tudo, idosos, crianças, estrangeiros, pessoas fantasiadas, e dentre tantas pessoas encontramos o Sr. Sasaki, que confesso que na hora eu não sabia quem era, esse senhor de 73 anos detém o recorde de escaladas na montanha, em 2012 ele quebrou a barreira de 1000 subidas até o cume e ganhou destaque na imprensa japonesa com a chamada "Monte Fuji todo dia", pelo fato de há 10 anos ele subir todos os dias durante os meses de maio a outubro, simplesmente incrível.

Nao mantinha um ritmo alucinante e confesso que acompanha-la não foi uma tarefa muito fácil, a vantagem de subir rápido é que a cada parada podíamos descansar mais tempo enquanto aguardávamos os outros. Próximo do topo encontramos uma mulher sozinha quase desmaiada, algumas pessoas disseram que seu companheiro a deixou ali e seguiu para o cume, nessa hora me coloquei na pele dela e fiquei imaginando como é sofrível estar a mais de 3500 metros de altitude como um bêbado jogado na sarjeta. Esse momento também me fez refletir sobre a sede do cume, o que leva uma pessoa a abandonar outra em estado de inconsciência e rumar monte acima apenas para satisfazer o ego. Ajudamos ela a se restabelecer e outra pessoa que também estava sozinha se prontificou a acompanha-la.

Apesar de a escalada do Monte Fuji ser tecnicamente fácil os últimos 100 metros são sofríveis, uma mescla de cansaço com o terreno íngreme que se torna duro e emburacado nesse trecho. Desta vez a altitude não foi minha inimiga e junto com Nao atingi o topo e novamente repeti o que havia feito um ano atrás  me dirigi ao portal que se encontra em frente ao Santuário Oku encostei a cabeça nele e agradeci aos Deuses por me darem permissão de estar ali novamente.

Aguardamos uns 10 minutos na saída da rota até que o restante do grupo se juntasse a nós, alguns muito cansados, porém com a expressão de satisfação e dever cumprido. Caminhando ao redor da grande cratera adormecida avistamos o Pico Kengamine, o ponto mais alto da montanha, parece um morrinho pequeno mas são mais 60 metros pela frente. Taro puxou a fila e eu o acompanhei, foi um trecho muito difícil, afinal depois de 6 horas de subida encarar aquilo em uma tacada só não é pra qualquer um.

Chegamos na frente e ficamos aguardando o restante, quando chegaram ao cume dei um abraço para parabenizar Gabi, já acostumada com estrangeiros ela me abraçou com naturalidade, as outras mulheres do grupo também aceitaram um abraço e compartilharam entre elas, os homens meio que sem jeito apenas observaram e sorriram, outros presentes também nos observavam com curiosidade, isso não é comum entre eles e percebi que aquele momento ganhou um toque especial.

Com o tempo perfeito pudemos observar a longínqua paisagem e descansar no ponto mais alto, finalmente eu havia pisado ali, já ter chegado no topo pra mim era especial, porém estar naquele ponto era a cereja do bolo. Enquanto descansava e observava comecei a refletir sobre minha jornada de 1 ano até voltar ao Fuji, as outras montanhas que subi, todo o meu treinamento e minha experiência que fizeram com que essa segunda escalada fosse perfeita.

Depois do descanso vem a pior parte, descer a montanha, eu detesto a descida, além de não ter mais um objetivo como o cume ainda acaba com os joelhos. Apesar da baixa temperatura o sol castigava e procurei descer o mais rápido possível, mas não o suficiente para acompanhar Nao que sozinha disparou na frente, Taro continuou a dar suporte aos mais cansados e eu e Gabi seguimos juntos conversando em portunhol, ela não gosta de falar espanhol quando os outros japoneses estão juntos e nessa hora ela aproveitou para tagarelar.

Na descida paramos menos e em uma das paradas encontramos um pai com os 3 filhos pequenos que também haviam feito cume, o mais novo tinha apenas 6 anos e parece já ter nascido pra isso. No 6º estágio encontramos com Nao e aguardamos um bom tempo até que os outros aparecessem, dali em diante descemos juntos, paramos no 5º estágio para comprar souvenires e voltamos para o carro para seguir viagem para casa, não sem antes parar em um onsen no pé da montanha e relaxar com um belo banho em águas termais.


GALERIA


 














9 comentários:

  1. Bacana demais as fotos e um relato show!! Parabéns pela linda aventura.

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    1. Vales Carlos, inspirado no seu vídeo da Serra Fina também captei imagens da minha ultima travessia, estou editando e em breve estará postado!!

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  2. De onde é o carinha brasileiro? A cidade dele não é citada no texto. Eu gostaria de saber.....

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    1. OPA Anonymous, moro na provincia de Mie, vc tbm vive no Japão??

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  3. Ola
    Parabens pelo post
    No final de setembro estarei no japao e gostaria muito de subir o monte fuji.
    Voce poderia me dar mais detelhes em relaçao ao grupo? Quanto foi e como faço para me inscrever?
    Abç
    Alexandre
    Sao Paulo / Brasil

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    1. Olá Alexandre,
      Bem primeiro gostaria de saber com que finalidade virá ao Japão, a trabalho, com a intenção de residir ou simplesmente mochilar.
      Quanto ao grupo é um clube que tem uma programação trimestral e nem sempre o Monte Fuji está incluso nela, para entrar é necessario primeiramente comprovar sua experiência em montanhas mais baixas para depois podeer encarar as mais altas. Uma experiencia com o clube sai por cerca de 5 dólares e depois de 3 vezes vc será convidado a se tornar sócio, com uma taxa anual de 40 dolares, mais o seguro de montanhas que é obrigatório.
      A época que pretende vir já não faz mais parte da temporada, e mesmo excursões já encerraram a sua programação. A partir da metade de setembro a montanha é tomada pela neve e se vc não for um montanhista experiente aconselho a não se arriscar.
      De resto mantenha contato, se não puder subir o Fuji, existem inúmeras outras montanhas aliás muito mais belas que podem ser visitadas nessa época...abç

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  4. Nando
    Mundo obrigado pela pronta resposta. Na verdade minha viagem ao japao é turismo puro. Ficarei apenas tres dias no Japao e partirei para um trekking até o campo base do Everest (5.350 metros). Nao sou montanhista nem alpinista, sou um mero esportista, fui nadador e praticante de tenis. Atualmente jogo tenis e tenho um personal tres vezes por semana fazendo exercicios focado para tal finalidade. Apesar de ser minha primeira e curta viajem ao Japao, tenho grande adimiraçao pela cultura. Achei que seria legal, alem de conhecer o Japao, fazer tipo um "aquecimento" subindo o Monte Fuji.
    Voce sabe se existem grupos de subida com contrataçao de guia nesta epoca em que eu vou? Chego no Japao dia 25/09 e parto dia 28/09, achei (pelo que tinha lido) que conseguiria subir e descer em um dia.
    Abç

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    1. Opa Alexandre, desculpe a demora!!
      Andei consultando as agencias de turismo que fazem excursões para o Monte Fuji e para o seu azar elas se enceram dia 23 de setembro, isso apenas em uma rota, pois as outras já estão fechadas...
      Depois me passe o seu email e então podemos conversar melhor sobre o assunto, assim posso ver se existe outro meio de fazer a escalada em grupo...

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  5. Nando
    Voltei...
    Pela internet encontrei uma empresa disposta a fazer o meu trekking com guia, da empresa mytokyoguide. Tenho conversado, por email, com uma pessoa chamada Richard Reay que me passou o seguinte roteiro:
    Day 1: Tokyo - Mt.Fuji 5th Station - 8th Station
    7:00 Hotel Pick-Up (Leave Tokyo via Chuo Expressway)
    10:30 Arrive at Mt.Fuji 5th station (Lunch on your own and prepare to climb) 12:00 Leave Mt.Fuji 5th station via kawaguchiko-Yoshidaguchi ascending route 15:00 Arrive at 8th station(3,250m).
    17:00 Reach Summit
    17:30 Leave summit via kawaguchiko Yoshidaguchi descending route
    18:30 Arrive at 5th station (Lunch on your own and rest)
    20:00 Leave 5th station, *Experience Onsen (Return to Tokyo via Expressway) 22:00 Hotel Drop-off
    Gostei bastante apesar do preço um pouco elevado, voce conhece esta empresa?
    Abç
    (alegabriel@uol.com.br)

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