Com o fim da primavera
a temporada de chuvas e tempestades dificultava as escaladas em
montanha, os raios que vinham caindo nessas regiões colocavam
medo em qualquer pessoa. Eu não diferente disso sabia que o
planejamento para uma ascensão deveria ser nos mínimos
detalhes. Comecei então a escolher um lugar e pela primeira
vez fui procurar um mapa com rota definida para facilitar minha vida,
mas claro que é sempre difícil para um leigo entender
um mapa e o mais difícil ainda é encontrar um cenário
totalmente diferente do imaginado pelo mapa.
Nessa minha busca
descobri diversos grupos e clubes de escalada e decidi que
futuramente entraria em contato com algum para buscar além de companhia aventuras mais altas, coisa que sozinho seria difícil
de conseguir, por uma série de fatores, financeiro, logístico
falta de experiência, dificuldade com o idioma e uma série
de outros fatores.

Logo cedo então
peguei minha mochila e parti para a montanha, se tudo desse certo 1
hora da tarde eu já estaria fora da montanha, assim não
correria riscos. Antes de iniciar a trilha passei pelo Grande
Santuário de Tsubaki e pedi a benção dos Deuses,
afinal eles já haviam me ajudado muito em um momento de
tempestade. Na entrada da trilha já se observa uma escadaria
de pedras, é só começar a subir por ela que a
mesma parece infinita, deve ter mais de 45ºC de inclinação
e você ganha mais de 100 metros de altitude em uma tacada só,
ao final dela com a língua de fora percebi que meu dia não
seria muito fácil.
Depois de mais um
trecho de subida, agora não tão íngreme começou
um trecho acidentado e um com certo grau de dificuldade, nesse trecho
encontrei um senhor que dizia estar com um pouco de medo da montanha
por ser a primeira vez nela, gentilmente comecei a acompanha-lo mas
como o ritmo dele era muito menor do que o meu ele insistiu que que
eu seguisse em frente. A trilha se tornou muito mais longa do que eu
imaginava, no meio dela existe até um abrigo de refúgio,
não possuía nada, era simplesmente uma cabana desabitada no
meio da montanha, porém em momentos extremos deve ser de muita
serventia.
Com mais de 1 hora e
meia de caminhada avistei o primeiro sinal de azaleia que é
o chamariz dessa elevação, isso indicava que o cume
estava próximo, e depois de chegar em um bosque repleto de
arbustos de azaleia avistei o topo pela primeira vez. Foi uma
pena não ter chegado no auge da floração, o que
é sempre difícil pois no período de uma semana
muda tudo, porém ainda encontrei belas flores e com uma
tonalidade que nunca havia presenciado antes.
Passadas 2 horas e 10
minutos e finalmente atingi o cume, isso depois
de atravessar o longo
topo quase inteiro. Nessa hora aprendi uma lição, nunca
subestime uma montanha, principalmente pelo seu tamanho, essa era a
menor que já havia escalado, porém tem 700 metros de
proeminência, que pra serem conquistados de uma vez só
exigem um esforço considerável.
Haviam apenas 2 pessoas
no topo, era um casal de idosos que partilhavam um almoço e a
paisagem, me sentei próximo deles e também fiz o mesmo,
com uma visão privilegiada da cidade de Suzuka. Como não
existem montes mais altos ao sul, pode-se observar perfeitamente a
formação de nuvens, e o impressionante é que
apesar de o tempo ter ficado levemente nublado não havia
nenhum sinal de tempestade. Como programado fiz meia hora no topo e
parti pra baixo.
Quando estava
atravessando o topo da montanha de volta e apreciando algumas azaleias encontrei o Senhor que havia cruzado na subida, ele
me cumprimentou e seguiu para o cume, depois eu ficaria me
perguntando que apuros ele passaria com a iminente tempestade.
A rota escolhida para a
descida seguia por um vale, o início era um verdadeiro buracão
do tipo salve-se quem puder, era descer aquilo correndo com o risco
de levar um grande tombo, ou acabar com os joelhos. A vantagem é
que em menos de 5 minutos você já perde uns 200 metros
de elevação, a desvantagem é que quando este
pique termina as pernas ficam bambas e retomar a descida depois de a
musculatura estar tão estressada é um verdadeiro
sacrifício.
Seguindo vale abaixo
entramos na floresta e uma mina d´água dá origem a
diversas cachoeiras e uma paisagem exuberante, pena que as trovoadas
começaram a me incomodar e isso tornou o caminho de volta ao
invés de relaxante, angustiante. Segui a passos firmes pra
baixo e em um momento tive a impressão de estar perdido, a
derrubada de árvores em um trecho simplesmente deixou a trilha
confusa a ponto de eu não saber pra onde seguir, felizmente
depois de consultar o mapa e observar o terreno consegui tomar a
direção correta.
O som dos trovões
começou a aumentar e clarões já eram percebidos
quando finalmente começou a chover, rapidamente coloquei minha
capa e continuei seguindo, a trilha se tornou plana e isso
significava que faltava pouco. Eu já avistava meu carro quando
começou uma verdadeira tempestade, adentrei no veículo
e me preparava para sair dali o mais rápido possível
quando o meu celular tocou, era minha “Querida Esposa” dizendo
para eu descer imediatamente pois já haviam emitido o alerta
de perigo, então apenas dei a boa notícia, “Fique
tranquila, já estou no carro”.
GALERIA