Durante a semana a previsão do tempo ameaçou a travessia e no sábado ainda indicava a possibilidade de chuva, porém como todos os participantes concordaram em subir com aquela previsão, todo o planejamento foi mantido. As 7 horas de domingo nos encontramos no Camping Uga e seguimos em apenas dois carros por um trajeto de serra que demorou cerca de 1 hora até a entrada da trilha, e ao contrário do que acontece com a rota do outro lado quando começamos acima dos 800 metros, dessa vez iniciaríamos abaixo dos 500 metros.
Logo na entrada da trilha uma placa de ¨boas vindas¨ indica para se tomar cuidado com a presença de ursos, a trilha segue um bom trecho aberta, pouco íngreme e sem obstáculos, esse caminho era usado no período Edo (1615-1868) e fazia a ligação entre a antiga capital Kyoto até a cidade de Nagoya e o leste do arquipélago. Uma região também marcada por conflitos pois os 2 maiores clãs ninja, Iga e Kouga faziam divisa com essas montanhas.
Para alcançar a crista encaramos mais de 300 metros verticais, além de íngreme, sem descanso. Nesse momento a diferença física valeu muito, o pessoal mais acostumado a montanha disparou na frente, eu fiquei sozinho no meio enquanto Gabi e You vinham lá atrás com muita dificuldade sendo amparadas por Taro. Depois de muito suor a recompensa, chegamos a bela crista que possui uma paisagem exuberante, onde é possível observar diversos picos como os montes Watamuki e Kama, além claro o cume do Monte Amagoi.
Depois de um breve lanche retomamos a subida seguindo a crista, encaramos um trecho de campo livre, um pouco de rocha, e de repente entramos em uma mata de capim muito alto, onde a ordem era seguir pra cima e se orientar com os gritos dos outros. A situação realmente ficou feia nesse trecho, em meio a um capim de 2 metros com lama e neve teve gente que se desesperou, mas logo alcançamos o pico Sul da montanha e fizemos nossa parada para o almoço.
Do pico principal se tem uma bela visão do pico Leste que aliás é mais visitado, parece tão perto que quem nunca esteve presente no local sugeriu ao líder que fossemos até lá, porém Takeyan decidiu não comprometer o nosso tempo mantendo o planejamento inicial. Na saída do cume observamos o lago Amagoi, que mais parecia um mangue de gelo e neve, alias na outra ocasião que estive ali nem havia notado a presença do mesmo.
Lago Amagoi |
Depois da aula de mitologia seguimos para face norte da montanha, com neve no caminho a coisa ficou um pouco mais difícil, como não seria um trecho tão longo de neve decidi não colocar os crampons e me dei mau, depois de um escorregão tentei desviar o corpo para não atingir outra pessoa e comecei a deslizar sem parar, tentei em vão abraçar a neve que não estava tão mole assim naquele trecho, então percebi o galho de uma arvore tocar minha cabeça e por sorte consegui me agarrar a ele.
Foi difícil me colocar novamente de pé e normalizar a respiração depois de um susto daquele, por sorte deslizei pouco mais de 10 metros mas poderiam ter sido mais de 100 metros e sabe-se lá quantos ossos quebrados. As pernas ficaram bambas e terminei aquele trecho com muita dificuldade, por mais que os outros repetissem exaustivamente para que eu me mantivesse mais ereto o meu corpo agora com medo parecia não querer obedecer.
Com o fim do trecho de neve fizemos nova parada, em um local indicado para acampamento haviam meia dúzia de mochilas cargueiras largadas no local, seus donos provavelmente estavam rumo ao cume e imaginem largar os equipamentos dando sopa assim em alguma montanha da América do Sul. Daquele trecho em diante seguimos muito rápido pra baixo até encontrar uma corredeira e fazer uma nova parada, dessa vez com direito a chá da tarde.
Seguindo novamente para baixo, encontramos o caminho de onde havíamos iniciado a subida e agora na volta aquele longo caminho parecia infinito. Aproveitei para dialogar em espanhol com Gabi que queria saber mais informações sobre o Brasil, onde ela pretende visitar um dia. Terminada a trilha era hora de voltar pra casa, mas antes paramos em uma vinícola famosa da região onde quase todos compraram vinhos e os levaram para relaxar em seus lares.
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