sexta-feira, 20 de julho de 2012

As 48 Cachoeiras de Akame


O final do mês de janeiro se aproximava e eu estava frustrado por não poder subir montanhas por um período, afinal no ápice do inverno é quase loucura uma pessoa sozinha e inexperiente se arriscar em uma montanha de 800m que seja. Ciente dessa situação fiquei quietinho até que um colega sugeriu que eu fizesse trilha na cidade de Nabari, região montanhosa onde se encontra um parque nacional com diversas cachoeiras e uma reserva de preservação da Salamandra Gigante.

Como ele havia estado no local na semana anterior me explicou que apesar de acidentada a região não possuía muitas elevações, alem de estar sem gelo e neve. Ótimo era o que eu precisava para não me arriscar muito, além do que se eu desse sorte haveria um pouco de neve para eu treinar e ganhar experiência, porém o cenário encontrado foi totalmente o oposto do imaginado.


A imagem fala por si só, e fiquei tão espantado ao ver o lago congelado e quase dei meia volta. Fui caminhado até a entrada da trilha que aliás tem que pagar, e pra minha felicidade a neve cessou o sol apareceu e encontrei uma paisagem bem diferente da que vi na chegada.


Na entrada recebemos um pequeno par de cordas rústicas, a indicação era para enrolar nos pés para não escorregar, agora imaginem andar mais de 8 km com isso no pé. Um tênis de inverno e um bastão de caminhada são suficientes pra encarar a camada de gelo que se forma pela trilha.


O caminho tem uma beleza exuberante com diversas cascatas de varias alturas, sendo que a maior possui 30 metros. Neste dia haviam pouquíssimas pessoas no local, o que facilita as paisagens para fotógrafos que eram a maioria, em busca de cascatas congeladas que não eram muitas mas davam o ar da graça.

Da metade da trilha em diante por conta da neve e do gelo em abundancia me tornei um aventureiro solitário e pude presenciar cascatas e lagos congelados que ninguém haveria de ver  naquele dia pois se quer haviam pegadas na neve fofa.

Na volta quis fazer aquela brincadeira que ninguém deve fazer, e agora eu tenho certeza disso, tentar caminhar sobre um lago congelado, verifiquei a parte rasa e dei 2 passos até escutar aquele barulho terrível de gelo trincando e eu ficar com os pés submersos. Os pés congelaram na hora e por muita sorte não entrou água no meu tênis e logo eles voltaram ao normal.


Na saída passei para ver a área que explica um pouco sobre a Salamandra Gigante, com esqueletos, videos e aquários com os animais que aliás devem ser bem difíceis se serem vistos na natureza, pois um animal que se parece com uma rocha e vive em meio a elas é pra poucos avistarem.


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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Monte Gozaisho - Congelando na Montanha

Passado pouco mais de 1 mês da escalada de outono meu corpo parecia pedir por uma nova subida, porém  o inverno se iniciava e sem experiência nem equipamentos não parecia uma boa idéia se aventurar em uma montanha.
Repentinamente me surgiu uma folga no meio de semana, 16 de dezembro, uma quarta-feira, na terça pela tarde observei as montanhas que ainda estavam nuas de neve e verifiquei a previsão do tempo que indicava neve para os dias seguintes, em fim essa era minha última chance.
Preparei minhas coisas e minha pequena mochila de 25 litros ficou explodindo com roupas reservas e um cantil com chá quente, a refeição programei fazer no restaurante da montanha, pois essa era uma boa hora pra comer algo quente e se aquecer e então parti em direção àquela cordilheira enevoada.
Eu mau havia chegado ao estacionamento e os primeiros flocos de neve deram o ar da graça, parei o carro olhei pra cima e pensei em desistir, mas novamente pensei já que estou aqui tenho que subir e novamente passa pela cabeça aquilo que nunca colocamos em prática, vou até onde der e depois desço...
A rota escolhida foi pelo lado sul da montanha, pois o lado norte fica praticamente sem sol durante todo o inverno e certamente ali já haveria gelo. Me atrapalhei um pouco mas achei a rota e fui seguindo até que em um trecho confuso saí da rota e fui parar justamente do lado que eu temia. Essa rota além de gelada no inverno é a mais acidentada, possuindo grandes paredes de pedra que necessitam do auxilio de correntes instaladas em vários locais.
Não havia muita gente na montanha e os poucos corajosos não queriam muito papo comigo, até que lá pelos 1000 metro de altitude encontrei duas simpáticas mulheres de Osaka que ficaram curiosas com um estrangeiro na montanha, elas logo imaginaram que eu fosse um europeu experiente em escaladas de inverno, porém depois de 5 minutos de conversa descobriram se tratar de um brasileiro em sua primeira subida de inverno, uma delas soltou uma gargalhada, pensei alto e soltei "acho que sou louco" e para minha felicidade ela respondeu "todos somos".
A partir daí entramos totalmente na face norte da montanha como já se imaginava havia um pouco de gelo, eu não tinha a menor noção de como aquilo escorregava e descobri essa desagradável sensação. Uma das mulheres tirou algo da mochila calçou os seu crapons a outra nada colocou e me aliviou dizendo não ser tão necessário naquele estado.
Chegamos ao topo sem dificuldade e acabamos levando alguns escorregões quando andávamos na parte mais plaina do topo. Foi dessa vez que descobri a beleza de uma árvore no inverno, pequenos flocos de neve grudam como areia nos galhos secos deixando eles tingidos de branco.
Quando chegamos na frente do restaurante eu perguntei a elas o que faríamos e elas disseram que queriam alcançar o cume e depois retornar pra comer ali, achei péssima a ideia pois minhas mãos já estavam congelando, mas diante da neve que corria por nós com um vento sobrenatural achei que seria péssima a ideia de ficar sozinho na montanha e resolvi acompanha-las.
Para alcançar esse cume existe uma escadaria de uns 30 metros, comecei subindo com muito pique pois aquilo era fácil pra mim, então descobri os efeitos do frio que foram paralisando as minhas pernas e me deixando sem forças. Com muito esforço alcancei o cume e não via a hora de sair daquele lugar pois meu estomago doía com a sensação de ter levado um chute no saco, para meu desespero uma delas sacou um fogareiro da mochila e começou a esquentar um chá. Diante daquele vento tentei me proteger em qualquer obstáculo sem sucesso, disse que estava com muito frio, elas concordaram e uma delas me deu a notícia, -10ºC, achei que ela estivesse brincando comigo então ela me mostrou o termômetro e quando confirmei aquilo o meu frio triplicou, pois apesar da minha inexperiência nessas situação eu tinha certeza de que minhas roupas não eram apropriadas pra isso.


Depois daquele chazinho bento que demorou uns 15 minutos pra esquentar descemos rapidamente em direção ao restaurante, minhas mãos já estavam com uma dor extrema e poder comer um prato quentinho do lado de um aquecedor parecia algo utópico.
Durante a refeição conversamos um pouco sobre o Brasil, futebol e montanhas. Elas sugeriram que eu escalasse os Alpes do Norte e suas montanhas de 3000 metros e desde então estou obcecado por essa ideia. Decidimos a rota de descida e descobri como eles são organizados nessas escaladas, elas ligaram para a prefeitura regional e notificaram que 3 pessoas desceriam por tal rota, depois de receber o ok de que não haveria problema iniciamos a descida.
Chegamos lá embaixo sem problemas por uma rota ingrime porem sem obstáculos, uma delas sugeriu que fossemos a uma casa de banho, a outra não gostou da ideia de eu acompanha-las até nessas horas, gentilmente neguei o convite e tomei o rumo de casa.
Essa foi uma subida em que aprendi muito sobre extremos e o meu limite, fui embora satisfeito e com a certeza de ter descoberto a paixão pelas escaladas de inverno. 


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